O ano de 2006 foi especialmente importante na minha vida.
Foi o ano que entrei na USP para estudar Pedagogia.
Naquela época, eu sabia bem pouco sobre a educação brasileira, sobre Paulo Freire, não tinha muita profundidade sobre assuntos e temas que hoje considero essenciais para a formação do sujeito.
Os anos foram passando, experiências foram sendo acumuladas, minha visão sobre educação foi sendo apurada e eu tinha cada vez mais certeza de que estava no caminho certo.
Um dos pontos que me faria ter ficado no Brasil, sem sombra de dúvidas, era o trabalho que eu tinha. Eu era muito feliz. Era realizada e reconhecida. Não foi fácil. Vivi um luto durante mito tempo.
Mas a vida anda para frente e eu estou inserida num outro contexto.
Assim que cheguei ao Reino Unido, em 2017, consegui um trabalho numa escola de Educação infantil. Assumir essa posição, para mim, foi um desafio muito grande. O trabalho feito naquela nursery, e em quase todas as outras, era limitante demais para mim, assistencialista demais, pesado demais, restritivo demais. Sofri. Dessa experiência traumática veio uma depressão profunda e um desejo eminente de nunca mais trabalhar com educação.
Passei dois anos tentando me reencontrar profissionalmente. Dois anos pensando no que eu gostaria de trabalhar. Nenhuma resposta realmente convincente chegou.
Nesse meio tempo, me tornei professora de Português como Língua de Herança e voltei para a Educação num contexto completamente novo.
Ano passado fiz uma amiga nova. A Siobhan. Em nossas conversas ela sempre me perguntava, incrédula, o que eu estava fazendo fora da sala de aula. Desabafava contando como era difícil achar uma vaga legal, conciliar com os horários nada convencionais das escolas das meninas, ser aceita num ambiente essencialmente britânico…
Mesmo assim, continuava aplicando para algumas vagas em escolas primárias de vez em quando. Na esperança de que um dia alguma coisa poderia aparecer.
E nao é que apareceu?
Em dezembro roubaram meu celular. Fiquei 10 dias offline e sem um celular para atender ligações. (o que foi libertador, diga-se de passagem).
Nesse meio tempo, como muitas coisas que acontecem na vida, recebi um email surpreendente: você ainda quer vir trabalhar com a gente? Era 18 de dezembro. Dia 19 as escolas entrariam em férias!
Esse momento era meu, Brasil!
Muita coisa acabou acontecendo nos dez últimos dias de 2019, me desliguei do trabalho de recepcionista que estava fazendo, corri atrás dos documentos que precisava para assumir essa posição, tive medo e crises de ansiedade… Mas essa semana, finalmente, comecei a trabalhar na escola!
Três anos longe da sala de aula, três anos enferrujada. E em uma semana a certeza de que é com educação que eu quero continuar trabalhando mesmo.
O caminho pode parecer longo (agora que cheguei aqui, o que são mesmo três anos?) mas pode valer a pena.
Em Março de 2017 eu mal conseguia falar o número do meu telefone em inglês. Em janeiro de 2019 eu dei uma aula de Matemática numa sala de aula numa escola inglesa.
Foi muito o que eu tive que aprender. Muito sobre a língua (que eu estava LONGE de dominar), muito sobre a sociedade e cultura daqui (que está muito muito muito distante das coisas que eu vivia e sabia sobre o Brasil que deixei). Muito sobre um contexto educacional onde muitos alunos não falam inglês em casa. Onde muitos alunos possuem, inclusive, outro alfabeto em suas línguas nativas.
Aqui estou eu. Numa sala de aula como professora, mas principalmente como aluna.
Olá Camila, tudo bem?
Quero que saiba que o Vida sem Legenda foi um grande ajudados na minha jornada para o Reino Unido! Cheguei aqui com duas filhas, um esposo e muitas expectativas, muitas dúvidas sanadas por vocês! Gostaria de mais uma ajuda, se possível! Estava pensando em estudar para teacher assistant, você saberia me dizer qual curso/especialização é necessário? Ouvi dizer que não é obrigatório “pedagogia”.
Você saberia me informar?
Muito obrigada desde já e parabéns pelo site incrível de vocês!
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