Essa Camila que sou hoje começou a ser feita lá atrás, ainda em 2016.
Naquele ano, enquanto gestava Liv preparava as malas e a vida para a maior mudança de todas. Desde seu nascimento a casa era um amontoado de coisas entre “o-que-ía” e “o-que-ficaria”. Doações (muitas, muitas mesmo. Por que a gente acha que precisa de tanto para viver?), vendas de móveis, eletrodomésticos, roupas, livros – esse dinheiro foi bastante importante para compor as economias que trouxemos. 2016 foi o ano, então, de arrumar a mala. As malas, na verdade. Foram seis!
Se 2016 foi o ano de montar as malas, 2017, claro, foi o ano de desmonta-las. No sentido figurativo isso diz muito. Quatro vidas, seis malas e uma casa beeem menor. Adaptação, aprendizado, humildade e consciência. 2017 foi o ano do settlement. Era imprescindível que Edda se adaptasse na escola e em sua nova rotina completamente nova. (Já contamos aqui que ela não sabia nem como pedir água em inglês…). Enquanto adaptávamos uma à escola, adaptávamos outra ao mundo. Amamentação em livre demanda, acompanhamento de todo o desenvolvimento de um bebê que aprendeu a sentar, engatinhar, balbuciar, comer já em terras gélidas do Norte.
Cheguei em 2017 vestida da Camila que eu era. Meus hábitos, meus costumes, minha forma tão particular (e muitas vezes crítica) de ver e me ver no mundo. Meu cheiro, meus gostos…
Com as malas desmontadas, chegou 2018. O ano em que eu me despia de quem eu era. Pode parecer forte, mas não há exagero algum. Fui pouco a pouco tirando as camadas de quem eu era. Todas elas. A vaidade existe, mas agora é outra. Minhas ideologias existem, mas foram ampliadas pela minha condição de imigrante, minhas saudades foram aprofundadas ao meu mais profundo eu. E vou te falar, viu? Doeu. Doeu muito. Cada camada tirada tirou sangue e lágrimas. Mas há outro jeito? Creio que não.
E assim começo 2019. Completamente nua. Quase todas as Camilas que já fui estão guardadas em caixas no sótão de casa.
Essa nudez de quem me tornei é ao mesmo tempo libertador e desafiador. Posso me vestir daqui em diante exatamente do jeito que eu quiser. Estou começando de novo. E escolhendo por onde começar.
O ano de 2019, portanto, é o ano de voltar a me vestir. Escolher uma a uma as características dessa Camila que renasceu do lado de cá do oceano.
O que desejo para o 2019 que eu seja boa para ele. Que eu faça por merecer o Sol que nasce (embora sempre entre nuvens por aqui…) a cada manhã. Brindar dia após dia a oportunidade que tive e tenho de poder escolher e me reinventar em todos os sentidos.
Viva a coragem de não precisar mais de legendas!