Mindset Change. Mudança de Mentalidade.
Quando começamos a planejar nossa mudança, lá no meio de 2016, não sabíamos exatamente por onde começar.
Deveríamos primeiro pensar em “fechar” nossas coisas no Brasil? Vender os móveis? Pedir as contas no trabalho? Ou primeiro pensar nas coisas que deveriam ser pensadas no país destino? Aliás, qual seria o país destino? Nem mesmo isso a gente sabia.
Sabe, não é fácil deixar coisas pra trás. Ainda mais difícil deixar toda uma vida pra trás. Seu modo de vida, o modo de pensar na sua rotina, como programar seu fim de semana etc.
Já dissemos antes que nossa vida no Brasil era muito confortável. A gente viajava, passeava, tinha carro, fazia compras, casa grande, conforto, família perto, escola particular. A vida de um paulistano típico.
Não tinha porquê mudarmos de cidade, quiçá de país.
Hoje, olhando pra trás, percebo que nossa mudança começou pela mais difícil de todas. A Mudança de Mentalidade. E entendemos que alguns pontos devem ser ponderados antes que você também pense em mudar de país. Sete perguntas que te ajudarão a refletir sobre o processo da mudança (seja ela pra onde for).
Estes não são absolutamente todos os pontos que devem ser pensados antes de uma mudança. Mas são os primeiros passos de uma longa jornada. Ou de uma conversa. Apenas o começo da reflexão.
1-Por que?
A primeira pergunta lógica na sua mente deve ser “Por que quero me mudar?”. Parece simples, mas ter isso bem claro na sua mente fará com que, quando bater aquela saudade do Brasil, seu objetivo seja mais forte do que a vontade de pegar um avião de volta.
Nossa primeira intenção foi poder proporcionar uma vida melhor pras meninas. Acesso à educação, cultura, lazer, segurança, viagens. Uma vida sem medo de assaltos em semáforos, sem violência, sem medo de bala perdida. Uma sociedade menos opressora e mais justa. Qualidade de vida. E é claro que a gente também usufrui de tudo isso junto com elas.
2-Estou pronto pra deixar quase tudo pra tràs?
Quando eu digo quase tudo, quero dizer quase tudo mesmo. Família, amigos, modo de vida, carro e, em alguns casos, até animais de estimação…
Como “modo de vida” é muito amplo, vamos estreitar um pouquinho:
- faxineira, diarista, empregada
- condomínio e porteiro
- vaga de garagem no prédio
- escola particular para os filhos
- jeitinho brasileiro
- verão, piscina e praia de areias brancas
- ticket refeição
- plano de saúde particular
- aposentadoria por tempo de serviço
- 13º salário
Pra nomear apenas alguns itens.
3-Estou pronto pra aceitar o que o meu novo país vai me oferecer (ou tirar de mim)?
Essa é uma pergunta profunda e que incomoda porque ela mexe principalmente com perdas. E você deve se preparar para este tipo de resiliência.
Esta questão também mexe basicamente com os mesmos itens da lista anterior, mas podemos acrescentar alguns itens que esta nova sociedade irá lhe impor/oferecer.
- inverno rigoroso e longo
- verão curto (contudo, extremamente aproveitado)
- não tem jeitinho brasileiro pra nada (isso não quer dizer que não exista jogo de cintura)
- se você quer ter faxineira, custa muito caro
- escolas particulares são pra milionários
- condomínios são coisa de milionários
- a maioria absoluta das casas não dispõe vagas de garagem (seu carro vai “dormir” na rua)
- aliás, é mais provável que você não tenha carro
- as empresas não dão vale refeição, plano de saúde e nem 13º salário
- aposentadoria somente particular
4-Estou pronto para ser chamado de IMIGRANTE?
Esta não é a sua terra. Conforme-se.
A parte boa é que Londres está bem acostumada com imigrantes há séculos e todos adoram o “bom imigrante”. De modo geral, trabalhe bem, seja bom no que faz, não cause problemas, seja uma boa pessoa, seja parte da sociedade, não jogue lixo no chão, siga as regras. Ah!, e não cause problemas.
Isto não significa que você terá sub-empregos. Tudo vai depender do seu nível de fluência no idioma local. Veja o que falamos sobre este assunto procurando nossos textos sobre empregos, na aba de assuntos e economia (ou clique aqui).
5-Estou preparado para falar outro idioma todos os dias?
É realmente cansativo falar e pensar em outro idioma a todo momento, principalmente no começo, logo depois da mudança. Com o tempo isso passa, e você passa a ter mais fluência, mais confiança e o idioma passa a fazer parte do seu dia-a-dia, da sua rotina e até mesmo dos seus sonhos.
Mas até lá, leva algum tempo pra você não ter cansaço emocional.
6-Estou disposto a ver e aprender coisas novas?
Me lembro quando vim a Londres pela primeira vez com meu irmão em 1997, me deslumbrei com a cidade, com os carros andando na mão “contrária”, com a rica história desta nação presente ainda hoje. E me lembro de ter ficado maravilhado ao ver um sem número de pessoas de outras nações, outros costumes, roupas diferentes. Os turbantes dos Sikhs, as batas coloridas das africanas, os sotaques de todos os cantos do mundo.
Todos os dias vemos coisas diferentes, ainda hoje. E aprendemos sobre novas culturas, novas religiões, comidas típicas.
O novo é uma constante. E se isso te incomoda, repense.
7-Estou pronto para receber uma notícia desagradável do outro lado do oceano e não poder fazer nada a respeito?
Estava conversando com a Camila sobre isso. E se acontece de você receber uma notícia infeliz sobre seus pais ou alguém muito próximo que morreu? O que você faz? Pega o primeiro avião de volta, mesmo sabendo que não vai dar tempo? Pense nisso.
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Pode parecer que sim mas não estamos tentando desanimar ninguém. Existem muitas coisas boas em se morar fora do Brasil (afinal, este blog quase que inteiro fala sobre isso e sugerimos a leitura dos nossos posts anteriores). Estamos apenas propondo um exercício de reflexão.
No fim das contas, a principal pergunta é:
O quanto estou disposto a abrir mão pra morar fora.
Não é fácil, às vezes dói, às vezes dá vontade de ir embora. Mas é muito recompensador.
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