Assim que desembarcamos, meu medo era grande. Edda com 6 anos nunca havia sido exposta a outro idioma )apesar de nossas inúmeras viagens, ela nunca precisou se comunicar em outra língua até então.
Naquele 2 de maio, lá fomos nós até sua escola. Caminhávamos apreensivas, cada uma em seu silêncio. Suas mãos pequenas tremiam envolvidas pelas minhas.
Após algumas poucas frases com a professora, que deveria ser chamada de Miss, “abandonei” minha menina lá e voltei para casa AOS PRANTOS.
“Como ela vai pedir para ir ao banheiro?”
“E se tiver sede?”
“E se precisar explicar alguma coisa”
Calma, amor. A tranquilidade do Rodrigo me fez respirar fundo e aguardar o relógio marcar 3.30pm. Finalmente poderia ir buscá-la.
Em sua primeira atividade: mal sabia dizer o próprio nome.
Ela havia sobrevivido ao seu maior desafio. Eu também.
Quando escolhemos a escola onde ela estudaria, lemos o Ofsted (que é um relatório de uma auditoria feita em todas as escolas do Reino Unido) e descobrimos que 73% dos alunos da escola não tinham o inglês como primeira língua. Haveria de ter algum falante de português! E tinha! O André foi vital para a sobrevivência da Edda nesses primeiros meses.
Fora da escola, no entanto, era visível a irritabilidade dela ao ser colocada para falar em inglês. Qualquer frase ou comando que eu dava, era motivo para choro e stress. Respeitei seu momento. Afinal, a rotina da escola era puxada. Aulas das 9am até as 3.30pm com duas aulas extras por semana.
Como pedagoga, observei o que aconteceu com a Edda ao adquirir um novo idioma: num primeiro momento, assistir desenhos na TV era difícil. Como “forma de sobrevivência”, escolheu assistir programas que não tinham falas, “Pantera cor de rosa”, “Mr Bean”, “Ziggy e o tubarão” e até Chaplin!
A escrita também foi desenvolvida!
Em determinado momento, ela descobriu que conseguiria usar a opção de “português de Portugal” no Netflix. Mais um passo para se manter viva nessa turbulência de novidades.
A vida foi passando e ela foi descobrindo a quantidade de coisas que conseguiria ter acesso se dominasse o inglês. E assim foi.
À medida que foi ganhando confiança no idioma começou a contar sobre as coisas que aprendia na escola.
Um dia a vi lendo Roald Dahl, outro dia a peguei cantarolando em inglês, sem que ela se dê conta já começa a falar comigo em inglês, algumas vezes ela mesma pergunta em inglês. Outras muitas corrige meu acento!
Outra fato curioso nesse meu laboratório pessoal sobre educação é o que aconteceu com Matemática. Ela ainda não tinha tudo aulas sistematizadas de Matemática (saiu do Brasil depois de recém ter começado o primeiro ano), portanto a relação dela com essa disciplina é em inglês. Assim, simplesmente não consegue fazer contas que não seja usando o idioma local e tem até um pouco de dificuldade para pensar números em português.
Aulas de ciências: investigando!
Portanto, para as mães que estão chegando com crianças pequenas vale a máxima: “calma”.
As crianças têm uma capacidade de adaptação que impressiona! Tudo é novidade… mesmo para ela que mudou para uma escola completamente diferente daquela que ela havia frequentado por anos.
O idioma vem. E vem porque eles aprendem brincando. Vem porque as ligações de suas cabeças estão abertas para receber o maior número de informações que for possível.
Adorei, quase chorei só de imaginar sua agonia em deixa-la na escola no primeiro dia.
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Obrigada pelo relato… Chegamos em Liverpool no início de Outubro e minha filha tinha recém feito 6 anos. A minha preocupação é grande em relação a alfabetização, mas tenho visto progressos. E confesso q apesar de minha filha quase não falar o idioma, nunca a vi tão feliz na escola.
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Está vendo, só? Ela chegou com a mesma idade que a Edda, nossa filha mais velha. De acordo com alguns estudos, uma criança pode aprender quantos idiomas quiser! E isso é tão maravilhoso, né? Sucesso para vocês!
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Que relato bacana, estamos de mudança para Reading em julho de 2019, temos duas filhas: 8 e 4 anos…nossa maior preocupação é sobre a adaptação delas na escola, idioma e vida social!!
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