Para muitas pessoas pode ser uma grande conquista continuar trabalhando na mesma área que trabalhava no Brasil. Isso traz conforto e com certeza é uma adaptação a menos em todo o extensivo processo de mudança de país.
Não sabíamos ao certo o que nos esperava do lado de cá, mas estávamos abertos a trabalhar com o que quer que fosse, já que boleto não tem piedade e continua chegando apesar de tudo.

Neste ponto, chegamos em Londres na época “errada”. Isso porque o ano fiscal aqui começa em abril e muitas empresas estão fechando seus balanços financeiros do ano anterior. Isso pode significar uma pausa nas contratações.
Além disso, aqui há as férias de Páscoa (Easter Half Term) que fecham as escolas por 20 dias. 20 longos dias para mim que estava mandando currículos para…. escolas!
Rodrigo possuía uma carreira consolidada em multinacionais no Brasil. E já estava habituado a um ambiente bilíngue e o inglês era uma ferramenta do seu dia-a-dia. Assim, já em sua segunda entrevista estava empregado trabalhando em sua área de atuação. BINGO!
Eu sou professora há 10 anos com uma carreira também consolidada. Mas atuo em uma área muito específica. Trabalhar com educação envolve valores e cultura, além de um currículo que varia de país para país.
No meu caso, o primeiro passo foi validar meus estudos para que eu fosse habilitada a trabalhar em escolas aqui.
Coloco abaixo o passo-a-passo de como fiz isso:
- Vim com meu diploma e histórico na bagagem;
- Escaneei todos esses documentos (deu 7 folhas!) e mandei para o NARIC – órgão inglês responsável por avaliar nossos estudos.
- Paguei a taxa para a tradução dos documentos + avaliação da papelada. Algo em torno de £120,00.
- Aguardei 20 dias e recebi o documento na minha casa.
Eles me deram o mesmo status de professores formados aqui. BINGO AGAIN!
Na minha área, as pessoas começam cursos em childcare logo após o término do ensino médio daqui. Geralmente elas obtém os níveis 2 e 3 para trabalhar em escolas de educação infantil e primário.
O NARIC me atribuiu nível 6. E sinceramente? Em alguns casos isso me deu uma de cabeça na hora de ir para as entrevistas. Aconteceu um fenômeno muito comum nos dias de hoje: over-qualification. Pois é: eu era muito mais do que eles pediam.
Mas, com o NARIC em mãos, fiz algo que muitos não lembram: um currículo com o formato daqui. Um processo longo, exaustivo e chato. Pesquisava as vagas em educação no REED, Indeed e CV Library. Lia a descrição das vagas e via o que tinha a ver com a minha experiência. Depois disso, escrevia em português minha qualificação (pensava melhor escrevendo em português) e só aí traduzia.
É bastante comum, também, os entrevistadores pedirem cartas de apresentação onde contamos um pouco da nossa trajetória. É importante que cada palavra seja minuciosamente pensada para que possamos realmente mostrar quem somos. Vender o peixe, entende?
Criança aqui é algo muito sério. Então, além de tudo isso, tive que tirar meu DBS (o antecedentes criminais daqui!). Além de professores, enfermeiros e funcionários de órgãos públicos também precisam ter esse documento. Ele vale £65 e tem a duração de apenas 19 dias!
Todas as empresas que me contactaram pediram referências de meus antigos empregadores no Brasil. Isso, embora exista, não é uma prática muito comum em terras tupiniquins. Mas aqui é importantíssimo. Eles ligam, mandam email, formulários, questionam… portanto, seja sempre sincero.
Depois de tudo isso, cadastrei meu currículo em agências. Muitas me ligaram. Muitas. Muitas. Muitas. Em minha terceira entrevista, assumi uma sala de aula como professora no último ano na educação infantil. Mas, como a vida de uma mulher com duas filhas pequenas não é nada fácil, tive que sair desse trabalho por conta dos horários…
Voltei ao mercado. Era maio. Mas as aulas aqui acabam em julho. Quem contrataria uma professora um mês antes de acabar as aulas? Todas as entrevistas que fiz eram para início em setembro…
Mas… uma dessas entrevistas deu certo. Acabei adaptando minha rotina (não dá pra trabalhar integral com duas filhas pequenas e sem avós por perto..) e hoje trabalho 18 horas semanais. O suficiente pra entrar uma grana, conhecer pessoas e aprimorar meu inglês.
É possível sim continuar na sua área de atuação e isso faz um bem pra auto estima! Afinal, por que estudamos tantos anos? (E foram muitos anos mesmo…)
O primeiro passo para continuar sua carreira por aqui, ao meu ver, é ter um bom nível de inglês. Depois, cumprir as exigências sobre o quanto você estudou e é experiente para desenvolver a sua função.