Vou contar uma coisa pra vocês. Eu sempre estudei inglês. Quer dizer, lembro quando comecei a estudar inglês no colégio quando eu tinha mais ou menos 10 anos de idade.
O estudo oferecido no colégio era fraco e por isso meus pais me pagaram um cursinho quando eu tinha uns 15 ou 16 anos. E a partir de então não parei mais. Minha primeira opção de faculdade foi como tradutor-intérprete de inglês, e até recentemente fazia traduções como modo de ganhar um extra.
‘Mas onde você quer chegar com tudo isso?’, você me pergunta, caro leitor.
Quero dizer que, mesmo com toda essa bagagem de estudo, eu aqui sou apenas mais uma pessoa que fala inglês. Sem contar os nativos, encontrei muitas pessoas que tem um inglês bem melhor que o meu (ou que tenha mais vivência com a língua).
Mas onde tudo isso faz diferença? No dia a dia.
É claro que ir ao mercado, ler um anúncio de jornal, pegar um ônibus, tudo isso pode ser feito sem muitas dificuldades e sem a necessidade de ser um ‘Shakespeare’ ou um ‘Tolkien’ do idioma local. Mas quando você for procurar um emprego, saiba que o tipo de trabalho que você irá encontrar será diretamente proporcional à qualidade do inglês que você tem.
A linha de raciocínio é simples:
- Inglês bom = emprego bom
- Inglês ruim = emprego que paga pouco e com pouca qualidade de vida
Algumas empresas aplicam testes de idioma (escrito e falado) nas entrevistas, enquanto que outras usam um artifício menos explícito para fazer a avaliação: o ouvido do próprio entrevistador.
E não é só isso: o seu dia-a-dia será agora totalmente em inglês. Imagine qualquer cenário em sua mente e –BAM!- está tudo em inglês. Qualquer um. Contar sobre o seu fim de semana para um colega, conversar com o vizinho sobre o jogo de ontem à noite na TV, ligar pra escola onde seu filho estuda, comprar verduras e legumes (é cada nome de verdura e legume), remédios… e por aí vai.
Enquanto você ainda está no Brasil, algumas pequenas mudanças no seu cotidiano poderão lhe ajudar e deixar você menos cru pra quando chegar aqui.
- Troque o idioma do seu celular para ‘English UK’. Pode parecer bobeira, mas isso fará com que você tenha contato com o idioma antes de chegar aqui.
- Troque o idioma do seu Netflix para inglês nas legendas. Seu ouvido (e seus olhos) precisam de treino constante. Se você gosta de séries, melhor ainda. Procure algumas que sejam ambientadas na Inglaterra (Doctor Who, por exemplo) ou que seja épica, porque em geral o sotaque é britânico (Game of Thrones, Downton Abbey, The Crown, Victoria etc). Veja dicas ótimas de filmes no Netflista.
- Leia em inglês. E muito. Acesse páginas de jornais locais, como o The Guardian ou o site da BBC. Tente não cair em tentação de usar a versão do site em português.
- Tem amigos por aqui? Ligue pra eles! Whatsapp e Skype são de graça.
- Não tenha vergonha de errar. Muitas (muitas mesmo) pessoas que moram em Londres não são daqui. E você irá encontrar uma infinidade de sotaques. E TODO MUNDO comete erros ao falar. E o melhor de tudo, ninguém liga se você errar alguma coisinha.
- Dependendo do emprego que você conseguir, você vai falar constantemente. Muitas pessoas conseguem o primeiro emprego como bar staff, num pub. Então, imagine-se atendendo um irlandês bêbado e feliz porque o time dele ganhou o jogo Rugby. Ou pior: o time dele perdeu.
- Baixe uns aplicativos de rádio (TuneIn, por exemplo) e sintonize rádios britânicas (leia mais sobre como o Rádio pode te ajudar aqui).
- Ouça músicas em inglês (são ótimas pra ganhar vocabulário). Em tempos de Spotify, Apple Music, Deezer e outros, fica muito mais fácil.
- No Brasil, as escolas e os cursinhos tendem a nos ensinar um inglês falado nos Estados Unidos (por diversas razões). Tente fazer uma transição do seu sotaque para o inglês falado aqui. Acredite: você notará essa diferença aqui quando estiver mais ambientado.
- Já falei sobre ler? E ler muito?
Algumas pessoas me criticam por isso (inclusive meu cunhado que pode estar lendo este texto), mas eu tento imitar o jeito de falar das pessoas. Aos poucos, isso fará com que você fique mais ambientado ao sotaque londrino e também aos locais.
Último conselho (acho): ao chegar aqui, converse com as pessoas sempre que puder. Mesmo que você saiba o número do ônibus a pegar, pergunte pra alguém. Puxe assunto com o vizinho (eles são gente como a gente). Ache pessoas com o mesmo interesse ou hobby que você e vá fazer amigos.
Enfim: destrave sua língua e seus ouvidos!